quinta-feira, julho 12, 2007

Noite de festa...

Não sei porquê mas quis sair, perder-me no turbilhão de gente que passeava nas ruas a ver espectáculos de rua, ver as barraquinhas de bugigangas, sentir o cheiro da sardinha assada o ar. A cidade estava mais viva nesta noite que em qualquer outro dia. A juventude corria desenfreada com os pais sempre de olho neles, os adolescentes também mas já com o álcool a correr-lhes nos sangue, sem falar nuns quantos que já estavam caídos a um canto tal não era a bebedeira. Namorados passeavam de mãos dadas quase com medo de se perderem uns dos outros no reboliço. O cheiro a sardinha ia desaparecendo com o avançar da noite e começava notar-se mais o cheiro a pipocas, farturas e mais tarde o pão com chouriço a sair dos fornos a lenha no meio da rua. O tempo passava e as famílias desapareciam com os filhos da rua só ficando os adolescentes, os bêbados e os resistentes do antigamente. Agora sim a festa começava, junto aos palcos, pelas ruas, em grupos numerosos, em pequenos grupos, em convívio, em conflito provocado pelo álcool ou pelo ajuste de contas de dissabores amorosos. São 3 da manhã e a cidade ainda fervilha. Junto ao cais a coisa anima-se mais do que esperado e a polícia vem intervir, nem seria festa se assim não fosse e também não seria se espectadores inocentes não fossem puxados para a confusão, sendo eu um deles. A polícia carrega sobre o pessoal sem fazer distinção, novo ou velho, homem ou mulher. Comecei a correr juntamente com mais outros tantos, isto já era festa a mais para mim. Vi-te a minha frente. Cais-te. Num impulso tentei ajudar-te, levantar-te do chão, impedir que fosses pisada pela multidão em fuga ou então que os polícias cegos chegassem ao pé de ti. O bom samaritanismo vale-me a mim de uma bastonada nas costas, felizmente não foi forte o suficiente para me impedir de continuar a fugir e esconder-mo-nos no jardim. A confusão acalmou num instante e ficámos os dois afastados do resto do pessoal em fuga e da polícia. Praguejas-te por teres rasgado as calças e por não teres gostado de ter de andar a correr a frente da polícia e que o pessoal desta terra devia ser todo doido, acendeste um cigarro para acalmar. A única coisa que me passava pela cabeça era dizer-te "Não tens de quê!", mas preferi pedir-te um cigarro. Com o que se passou nem te apercebes-te da minha presença, nem percebes-te o que te tinha dito. Pedi-te um cigarro novamente e ai acedes-te ao meu pedido pedindo desculpa. Ficaste ainda meio confusa a olhar para mim, a pensar quem era eu. Perguntaste-me porque é que eu te tinha ajudado ao qual eu respondi que também não sabia. Sentei-me no banco de jardim que ali estava, com aquela correria nem me lembrava que me tinham batido nas costas, por isso encostei-me desencostando-me rapidamente assim que senti a dor, nessa altura só pensei "Esta vai deixar marca.". Disse que pareceu-me a coisa certa na altura, apesar de que ser correcto por vezes dói. Acendi o cigarro, dando em seguida um suspiro quase como se funcionasse como analgésico. Começas-te a praguejar novamente, a perguntar se o pessoal da terra era tudo doido, a resposta óbvia era sim tal como era mais que óbvio que não eras de cá. Comecei a explicar o importante das festas da cidade e também de como não era festa se estas cenas não acontecessem e que também era normal alguém de fora não perceber o espírito da festa. Sorris-te e perguntas-te se era assim tão óbvio que não eras de cá, a resposta era mais que clara visto ninguém de cá sair à rua nesta altura com sapatos com salto por muito mínimo que fosse. Nesta atura corre-se muito, ou à frente dos touros ou à frente da polícia mas sempre de ténis, nunca de saltos. Desta vez encostei-me devagarinho o banco, para não doer tanto. Perguntei se te tinhas mudado para ali à pouco tempo disses-te que sim e impediste-me de perguntar mais alguma coisa, perguntando se eu estava bem. Eu respondi que sim e que já não levava uma daquelas à muito tempo mas que era o risco de andar a passear naquela zona, nesta altura do ano. Acho que estava a pedi-las. Tentei levantar-me, lentamente, a pancada estava a começar a arrefecer e estava a dor estava a aumentar, sentia-me um velho com reumático. Ajudaste-me a levantar colocando o meu braço a tua volta e colocando o teu braço à minha volta, apertando exactamente onde não devias. Só pude dizer entre dentes "Não apertes". Tiraste logo o braço à minha volta pedindo desculpa, mas continuas-te a segurar o meu braço a volta do teu pescoço que eu retirei lentamente assim que me consegui endireitar. Pedis-te desculpa por não teres agradecido por te ter ajudado a sair da confusão, as dores nem me deixavam pensar nisso, mas disses-te que a única coisa que podias fazer era levar-me ao hospital. Eu agradeci, mas gelo chegava perfeitamente e disseste que isso arranjavas facilmente. Comecei a notar uma certa aflição na tua voz quiseste levar-me para tua casa, dizias que ao menos o gelo querias dar-me antes que isto ficasse pior. Começá-mos a andar em direcção a tua casa, disseste-me onde ficava, a minha ficava mais perto mas também estava a ser uma noite interessante, quis ver até onde é que ela ia. Quando chegámos a tua casa, disses-te para me sentar no sofá enquanto ias buscar o gelo. Algo mole para me sentar e encostar soube bem. Quando voltaste trazias um saco de gelo enrolado numa toalha, foi aí que comecei a reparar em ti, no teu cabelo curto, castanho escuro, olhos claros, pele escura. Ninguém costuma ser muito bonito quando corremos à frente de um cacetete. Pedis-te para me virar, e puxaste as costas da minha camisa para cima e fizeste um som de quem não gostou do que viu. Imaginei logo que a marca não fosse bonita. Colocas-te o gelo sobre a marca negra nas minhas costas, o frio soube bem. Encostas-te a tua cabeça ás minhas costas como se tivesses cansada e disseste que isto era mais do que estavas à espera de uma noite de festas populares, que uma nódoa de cerveja ou vinho era aceitável. Fiquei mais um pouco mas ficámos em silêncio, estava a tornar-se desconfortável, disse-lhe que se calhar era melhor sair. Concordas-te, disses-te que estava a ficar tarde e acompanhaste-me até à porta. À despedida disseste que não era hábito teu fazer aquilo, eu disse que também não era hábito meu ir fazer gelo por causa de bastonadas em casa de pessoas desconhecidas. Mostras-te algo mais que não tinha tomado atenção ainda, o teu sorriso e disses-te que também não ias fazias intenção de receber mais estranhos para tratamento contra hematomas. Agradeci e passei a porta, pedis-te para esperar e perguntas-te se eu não queria saber o teu nome, limitei-me a responder que assim não tinha desculpa para voltar a tua casa. Sorris-te novamente e disses-te que ficavas à espera...Check Spelling